A segunda fase do Jornalismo Público
Susana Borges1
Nascido da intenção de colmatar o crescente distanciamento entre
cidadãos e governo e entre as organizações noticiosas e os seus
públicos, o movimento do Jornalismo Público propôs uma
alteração da tradicional relação entre os media noticiosos
e a vida pública. A função social do jornalismo passa a ser
entendida numa perspectiva mais alargada, cabendo-lhe impulsionar uma
vida pública mais democrática, o que significa formar o público,
e não meramente informá-lo. O jornalista deixa, assim, de ser
entendido enquanto observador distanciado da vida pública para ser
reposicionado enquanto "participante justo" (Merritt, 1998),
comprometido com a melhoria da participação, do debate e da
deliberação públicas.
Duas décadas após a sua emergência, fazemos uma revisão
crítica da literatura e das práticas do Jornalismo Público,
debatemos alternativas e equacionamos os desafios que enfrenta a
segunda fase do movimento, quer na perspectiva da sua
consolidação como uma modalidade de jornalismo de profundidade
quer no que respeita à sua afirmação como um modelo alternativo
de exercício da profissão.
Origens intelectuais e profissionais
As raízes intelectuais e profissionais do movimento são associadas
à Era Progressista, quer pela invocação do pensamento de John
Dewey sobre a natureza do público, no quadro da polémica que travou
com Walter Lippmann, quer pela inspiração dada pelo espírito
reformista dos jornalistas
muckrakers para reequacionar a
prática jornalística.
As propostas da Comissão Hutchins
(1947) sobre a liberdade de imprensa, desenvolvidas pela Teoria da
Responsabilidade Social, e, posteriormente, uma maior ligação à
filosofia política nos estudos da comunicação, nomeadamente
através dos trabalhos de, entre outros, James Carey, Hannah Arendt e
Jürgen Habermas são outros contributos para sustentar uma
redefinição normativa da função social do jornalismo
(Coleman, 2003), sem que, no entanto, até final da década de 1980,
tenham conduzido a formas alternativas de exercício de uma
profissão cujo
ethos se consolidou na linha da matriz
adversarial do liberalismo iluminista.
É após o "espectáculo perturbador" (Rosen, 1999: 39) da
cobertura mediática da campanha presidencial norte-americana de
1988, marcada por questões secundárias como as personalidades, as
estratégias e as tácticas dos candidatos, que emergem as primeiras
experiências do movimento. São impulsionadas pela
insatisfação generalizada das bases jornalísticas (Charity,
1995: 1), fruto da crise de credibilidade dos media noticiosos e dos
jornalistas, do declínio das tiragens e das audiências e da
orientação predominante do jornalismo para o mercado. Fundamental
foi também a crescente influência das teorias comunitaristas no
campo da filosofia política, as quais proporcionaram um "contexto
ético" (Coleman, 2000) ao movimento para procurar redefinir a
função social do jornalismo de modo alternativo à sua
herança liberal.
"Uma ideia em acção"
A ausência de uma definição unívoca deste "outro" jornalismo
deve-se à renitência dos seus principais impulsionadores em
articularem um conjunto coerente de conceitos e de práticas
profissionais que o unificassem, para além da (algo vaga)
intenção de tornar a vida pública mais democrática. Negando a
existência de um "jornalismo público oficial" (Charity, 1995: 9)
e de uma fórmula para fazer jornalismo público, "se esta existe,
tem ainda de ser descoberta" (Merritt, 1998: 7), estes optaram por
apresentá-lo como uma "ideia em acção" (Rosen, 1999: 5),
passível de ser inventado, definido e reformulado à medida das
organizações noticiosas que o adoptassem.
Imputando ao cariz adversarial do jornalismo convencional
responsabilidades pelos dois fossos de uma vida pública em crise, o
Jornalismo Público propôs a substituição do jornalismo de
informação por um jornalismo que alimente a conversa pública
(Carey, 1995: 382), visando um maior envolvimento do público nos
assuntos que o afectam. Posicionando-o como actor e sujeito da vida
democrática, as organizações noticiosas têm de abordar o
"eclipse do público" (Dewey, 2004), quer ao nível do seu
carácter fragmentado quer no que respeita ao seu retrocesso para a
esfera privada, criando as condições para que os cidadãos
possam emergir enquanto público (Rosen, 1999: 19).
Os impulsionadores do movimento direccionaram cirurgicamente os seus
esforços reformistas. Para Jay Rosen, o afastamento entre os
jornalistas e a vida pública é indissociável do conceito de
objectividade, elemento central da autonomização deste campo
profissional. Propõe a sua substituição por uma nova teoria de
credibilidade, assente no compromisso com a melhoria da qualidade da
vida pública, que promova as ligações necessárias à sua
revitalização. Ao decretarem "um fim à sua neutralidade"
(Rosen, 2003: 84), os jornalistas públicos redefinem a sua
função social como a arte de fazer a democracia funcionar. Já
Davis Merritt, embora reconhecendo que a função de
watchdog "tem servido bem o jornalismo (e a democracia) na
sua relação com o governo" (Merritt, 1998: 29), imputa aos seus
excessos o cepticismo sistemático dos jornalistas, dos quais decorre
uma suspeita social generalizada em relação a qualquer forma de
autoridade, obstaculizando a participação democrática. Defende,
em alternativa, que o jornalista seja um "participante justo e não
um observador distanciado da vida pública", uma espécie de
"árbitro", comprometido em assegurar o respeito pelas "regras do
jogo", mas "sem qualquer interesse partidário no resultado
específico, para além de que seja alcançado através de um
processo democrático" (Merritt, 1998: 97).
Desta redefinição da função social do jornalismo, emerge a
adopção de novas rotinas profissionais pelos media noticiosos,
direccionando-as para a promoção da comunicação entre os
cidadãos, posicionando-os como actores, e não como espectadores,
da vida pública. As primeiras experiências, conduzidas em jornais
norte-americanos de dimensão regional, envolveram um conjunto de
metodologias de auscultação do público e a promoção de
iniciativas que fomentassem o seu envolvimento na vida comunitária.
As principais tarefas do processo de produção de notícias, como
a definição da agenda e do tipo de cobertura noticiosa, foram
reformuladas, visando um maior envolvimento da comunidade, assumindo
ainda os media informativos um papel activo na promoção do debate
e da deliberação entre os cidadãos. Exemplos dessa
reorientação do trabalho jornalístico para o público são a
criação da "agenda dos cidadãos", integrando os assuntos que,
através de sondagens, as comunidades identificam como prioritários;
o tratamento noticioso em profundidade desses temas; a criação de
grupos de foco e de painéis de cidadãos para acompanhar e criticar
o trabalho dos media e a organização de "reuniões de cidade"
para debater os assuntos e deliberar sobre possíveis soluções.
Das primeiras experiências em jornais da cadeia
Knight-Ridder, no início da década de 90, aos grandes
projectos financiados por instituições como o
Poynter
Institute, o
Project on Public Life and the Press e o
Pew Center for Civic Journalism (PCCJ), o movimento
expandiu-se rapidamente pelas redacções de jornais, rádios e
televisões norte-americanos nos anos seguintes. Desde o fecho do
PCCJ, em 2003, o seu trabalho tem sido desenvolvido pela
Public
Journalism Network, uma associação global que promove
workshops, publica obras sobre o movimento, funciona como
fórum para a partilha de inovações no ensino do Jornalismo
Público e mantém um blogue com informação sobre as diversas
iniciativas que vão sendo levadas a cabo a nível mundial.
A opção por manter a teoria e a prática do Jornalismo Público
em aberto, visível nas diversas designações que o movimento foi
assumindo - "jornalismo público", "jornalismo cívico" ou
"jornalismo de ligação comunitária" -, foi um factor
preponderante na sua rápida difusão e expansão junto das
organizações noticiosas, não obstante as cerradas críticas
que surgiram das fileiras jornalísticas de elite, a maior parte das
quais representando pouco mais que "uma crua caricatura" do movimento
(Glasser e Craft, 1998: 203). Em meados da década de 2000,
contabilizavam-se em mais de seis centenas as iniciativas associadas
ao Jornalismo Público, com características diversas, mas
agrupáveis em três categorias abrangentes: 1) iniciativas
eleitorais; 2) projectos noticiosos especiais e 3) esforços para
fazer do jornalismo público uma parte integral da rotina de recolha e
de transmissão de informações, bem como de práticas de
avaliação da actuação dos media informativos (Haas, 2007:
11).
Duas décadas após a emergência do movimento, contudo, esta
opção surge como o principal obstáculo à afirmação do
Jornalismo Público como um modelo alternativo ao jornalismo
convencional (Schudson, 1998), como uma teoria normativa da imprensa
(Glasser, 1999) e como uma ameaça à sua sobrevivência (Coleman,
2000).
Em busca de uma "filosofia pública"
Apesar do movimento avançar alguns argumentos gerais acerca da
função e da responsabilidade do jornalismo numa sociedade
democrática, verifica-se que lhe falta, ainda, uma "filosofia
pública" (Haas, 2007: 25), que explicitamente designe onde reside ou
na qual deva assentar o seu carácter "público".
Esta lacuna agudizou-se à medida que o Jornalismo Público deixou
de estar restrito a projectos especiais, para se transformar na mais
impressionante crítica da prática jornalística, oriunda do seio
da profissão, numa geração e no mais bem organizado movimento
social jornalístico da história da imprensa norte-americana
(Schudson, 1998: 134), sem que tenha sido capaz de se constituir como
uma alternativa aos modelos de jornalismo existentes.
A noção jornalística do movimento emerge, sobretudo, das suas
práticas, direccionadas para a auscultação dos cidadãos e
para a promoção do debate e da deliberação públicas,
visando: 1) reportar os problemas de principal preocupação para
os cidadãos (ao focar assuntos de política substantiva em vez de
acontecimentos isolados); 2) cobrir esses acontecimentos a partir das
perspectivas dos cidadãos (incluindo mais cidadãos, nomeadamente
mulheres e minorias, como fontes de informação) e 3) envolver os
cidadãos em esforços para resolver os problemas (disponibilizando
informação mobilizadora acerca de como podem envolver-se nos
assuntos comunitários locais) (Haas, 2007: 67).
Focando-se, essencialmente, nas rotinas da redacção, os seus
principais impulsionadores deixaram de fora aspectos fundamentais no
que respeita aos contextos social, político, económico e
tecnológico do processo de produção de notícias (Hardt,
1997), sem os quais não é possível equacionar mudanças
significativas na relação entre os media informativos e a
sociedade. O Jornalismo Público "pára pouco antes de oferecer um
quarto modelo, no qual a autoridade seja investida não no mercado,
não num partido e não no jornalista, mas no público. Nada no
jornalismo público remove o poder dos jornalistas ou das
corporações para as quais trabalham" (Schudson, 1998: 138).
Das comunidades aos públicos
Pese embora a literatura do Jornalismo Público estar repleta de
referências à "comunidade" e ao "público", os termos tendem a
ser usados indistintamente, o que se traduziu numa reorientação
das rotinas jornalísticas não para públicos, mas para comunidades
e, mais em concreto, para uma tipologia específica: a comunidade
formada "de baixo para cima", territorialmente vinculada e, em termos
gerais, equiparada à ideia de "vizinhança" (Schudson,
1999:128).
Equiparar a comunidade à vizinhança obnubila as relações
tensionais entre os seus membros - em função da classe ou do
género, entre outras - e remete para uma visão redutora da
diversidade comunitária, seja esta concebida em termos territoriais
ou simbólicos. Esta confusão conceptual traduz-se também na
incapacidade de aprofundar os elementos que subjazem à
fragmentação dos públicos, como a desigualdade social que
emerge de relações de dominação e de subordinação
(Fraser, 1990: 66) e as suas consequências na comunicação
pública: "A comunicação é distorcida quando a
distribuição social do poder e de recursos mina as
condições para o sucesso comunicativo" (Bohman, 1996: 120),
produzindo deliberações sob a forma de decisões que não
atendem às necessidades de grupos inteiros de cidadãos. As
práticas do movimento obtiveram um sucesso limitado, verificando-se
não só que "apenas um estrato pequeno e selectivo de cidadãos
tende a participar nos fóruns, mas também que as regras formais e
informais de participação tendem a excluir a vasta maioria de
cidadãos e as suas preocupações" (Haas, 2008: 4).
Não obstante diversos projectos de Jornalismo Público terem focado
problemas que afectam os sectores marginalizados - racismo, pobreza,
crime, cuidados de saúde, imigração e desemprego - o
limitado alcance da sua abordagem é patente mesmo naquela que foi uma
das suas mais célebres iniciativas: a campanha "Uma Questão de
Côr", pela qual o
Akron Beacon Journal foi premiado com um
Pulitzer. Ao criar duas esferas discursivas separadas - uma
de carácter pessoal, veiculando o discurso dos cidadãos sobre os
seus problemas específicos - e outra de carácter técnico -
na qual os especialistas abordavam os temas mais abrangentemente -,
o jornal foi incapaz de promover o diálogo entre os elementos do
público (cidadãos - especialistas), apresentou os cidadãos como
vítimas (em vez de sujeitos) do debate sobre a resolução do
problema e não analisou a forma como o racismo se articula com outras
dimensões identitárias, como a classe ou o género (Haas: 2007:
88). Por outro lado, ao enquadrarem os contributos dos cidadãos
através de narrativas personificadas, os media noticiosos associados
ao Jornalismo Público seguem práticas que em nada se distinguem do
jornalismo convencional, minando os seus esforços de promoverem uma
deliberação pública mais inclusiva. A mediatização da
"pobreza política" dos grupos minoritários, traduzível na sua
incapacidade de participarem efectivamente no processo democrático e
na sua consequente vulnerabilidade em relação às
consequências, intencionais ou não, das decisões, pode contribuir
para uma ilusão de participação, que ajude à manutenção
(em vez da eliminação) dessas desigualdades: "O seu silêncio
é transformado em consentimento pelos deliberantes mais poderosos,
que são capazes de os ignorar" (Bohman, 1996: 126).
A insuficiente teorização acerca da natureza do "público"
reflecte-se também na forma como o movimento abordou a opinião
pública e a função de
agenda-setting dos media. A
primeira fragilidade reside no recurso a sondagens de opinião para
identificar os temas prioritários para os cidadãos, uma opção
que "tende a reificar a opinião pública em formas que são
contrárias à premissa do jornalismo público de que o debate e a
discussão necessitam de ser distintamente públicos e que a imprensa
tem uma especial responsabilidade em assegurar essa
publicidade" (Glasser e Craft, 1998:
210). Não só não têm em conta a instrumentalização das
sondagens por interesses particulares (Habermas, 1997), como confundem
a opinião pública com um somatório de opiniões individuais
(Bourdieu, 2003), sendo ainda incapazes de distinguir entre a
expressão de uma opinião informada e racional e a mera expressão
de preferências ou preconceitos. A segunda fragilidade articula-se
com a primeira, já que o uso das sondagens contribui para a visão
da opinião pública como fonte, e não como consequência, das
agendas da redacção, obscurecendo a responsabilidade dos media
noticiosos na definição da agenda para o debate e a discussão
públicas. "Ninguém parece ansioso por abordar o assunto: A
opinião pública existe antes - e assim independente - da
imprensa, presumivelmente esperando para ser descoberta pelos
políticos, pelos jornalistas e por quem realiza sondagens? Ou, para
ter a visão contrária, a imprensa ajuda a dar existência aos
públicos e às suas opiniões ao estimular a discussão sobre
assuntos de interesse comum?" (Glasser e Craft, 1998: 211).
Entre o comunitarismo e o liberalismo
As referências que se encontram na literatura do Jornalismo Público
no que respeita à redefinição da função social do
jornalismo assumem uma dimensão dupla. Em primeiro lugar, imputam ao
ethos adversarial do jornalismo convencional a origem do seu
distanciamento em relação à vida pública. Em segundo,
propõem a sua substituição por práticas que promovam um
"jornalismo de ligações" (Rosen, 1996) que contribua para um
maior envolvimento dos cidadãos na vida pública: "O jornalismo
público tem êxito quando fortalece a capacidade da comunidade
política de se compreender a si mesma, de saber dialogar e de fazer
escolhas" (Rosen, 2003: 55).
Implícita nesta asserção está uma ética comunitarista: "Os
objectivos do jornalismo público presumem um bem comum de algum tipo
- disponibilizar um enquadramento para democracias saudáveis,
ligação comunitária, envolvimento cívico" (Christians, 1999:
67). Deste entendimento, que encara a comunidade como axiológica e
ontologicamente antecedente aos indivíduos, cuja identidade e
realização só é plenamente concretizada através de
ligações humanas no seio comunitário, decorre a necessidade de
definir o "bem comum", sem o qual invocações de "cidadania,
discurso cívico, activismo comunitário e participação das
bases são apenas alegações moralistas" (Christians, 1999: 68).
Adoptando uma ética comunitarista, o Jornalismo Público
privilegiaria o "bem comum", isto é, a formação da
comunidade, em detrimento dos "direitos individuais", o que implica
encarar as notícias não como veículos de "informação" dos
cidadãos, mas antes como "um agente de formação da
comunidade" (Christians, 1997: 19).
No entanto, ao preconizar que "os jornalistas devem trazer para a arena
da vida pública conhecimento acerca das regras - como é que o
público decidiu que a democracia deve funcionar - e a capacidade e
a vontade de providenciar informação relevante e um sítio para
que essa informação possa ser discutida e transformada em
consentimento democrático" (Merritt, 1998: 97), o movimento adoptou,
na essência, uma visão "liberal da democracia e um papel
inteiramente procedimental para a imprensa" (Glasser, 1999: 8).
Defendendo uma postura de "neutralidade pró-activa" (Rosen, 1999:
258), seja através do jornalista como um "capitalista cívico" que
trabalha em prol da "democracia, mas sem advogar soluções
particulares" (Charity: 1995: 146), seja como um "participante justo
na vida pública" (Merritt, 1998: 7), o movimento propõe que o
jornalismo seja "um campeão de meios democráticos, mas não de
fins democráticos" (Glasser e Lee, 2004: 209).
Na defesa de um papel moderadamente activo, mas não-partidário e
apolítico, para os media informativos transparece o carácter
reformista do movimento, optando por uma estratégia de continuidade
(e não de ruptura) com as funções tradicionais atribuídas à
imprensa pelo pensamento liberal. O jornalismo é, nesta perspectiva,
um veículo de informação dos cidadãos, para que estes se
possam envolver "num discurso fundamentado acerca dos assuntos
públicos" (Hodges, 1997: 44) e a liberdade de imprensa é uma
extensão da liberdade individual de expressão de cada cidadão,
entendido como ser racional e livre. "Podemos alcançar a vida boa
para todos apenas se garantirmos primeiro os direitos de cada um"
(Hodges, 1997: 45), emergindo a comunidade do contrato que estes
estabelecem entre si através desse diálogo público.
Este posicionamento estratégico ajudou o movimento a defender-se das
críticas, na sua fase de emergência, quanto a uma eventual perda da
autonomia jornalística, oriundas sobretudo dos media noticiosos de
elite, entre os quais o
Washington Post e o
New York
Tymes (Rosen, 1999: 207-248), mas obstaculiza a sua afirmação
como uma teoria normativa da imprensa (Glasser, 1999: 9), já que
não oferece nenhuma "teoria do bem" que o sustente: "Tal como
outras vozes na tradição comunitária, é muito melhor a
identificar os limites do liberalismo do que a entender verdadeiramente
quer a "comunidade" quer a vida pública" (Schudson, 1998: 134).
Um jornalismo de conversação
Subjacente à substituição de um "jornalismo de
informação" por um "jornalismo de conversação", está a
asserção de que a função do jornalismo é "reflectir e
animar a conversa pública e a argumentação" (Carey, 1995:
382), transformando-se os media informativos "num espaço para o
diálogo público, num lugar institucional para a conversa e num
fórum no qual os cidadãos possam ouvir as vozes uns dos outros"
(Anderson
et al., 1997: 98).
Dois modelos de conversa pública emergem das suas práticas - a
promoção de diálogos face-a-face e o alargamento da
conversa pública mediatizada -, mas nem a relação entre
ambos é explicitamente articulada, nem é precisado qual o seu
contributo para a melhoria da qualidade do discurso público: "Ao
definir discurso público ampla e indiscriminadamente, o jornalismo
público evita uma das suas mais importantes escolhas: decidir como
é que a democracia irá funcionar" (Glasser e Craft, 1998: 212).
A opção do Jornalismo Público pela promoção de encontros
presenciais entre os cidadãos, como as "reuniões de cidade" -
herdeiras do espírito das
town meetings de Nova Inglaterra
dos séculos XVII e XVIII - para estimular o debate e a
deliberação entre os cidadãos remete para uma concepção
simultaneamente dialógica e deliberativa, mas privilegiando a
comunicação face-a-face, e para um modelo de democracia
participativa. Em simultâneo, ao reportar o resultado dessas
reuniões, através da cobertura noticiosa subsequente, para
informação dos cidadãos ausentes, recorre a práticas
semelhantes às do jornalismo convencional, aproximando-se dos
ideais democráticos representativos. O que não resulta claro é
qual o modelo de democracia que o movimento preconiza: "A prática
actual do jornalismo público sugere que os praticantes nas
redacções estão comprometidos com uma forma de democracia
deliberativa que combina características de democracia representativa
com democracia directa - participativa." (Haas, 2007: 3).
O debate académico bifurca-se nesta matéria. Glasser e Craft
(1998) argumentam que os ideais de diálogo e de deliberação
apontam para modelos diferentes de democracia e para funções
distintas para o jornalismo. Ao diálogo subjazem padrões
discursivos associados à fala, isto é, assentes em relações
interpessoais, enquanto a deliberação remete para um processo,
não necessariamente dialógico, através do qual possam ser
formados os julgamentos argumentativos: "Oportunidades para o
diálogo podem ser tudo o que é preciso para criar as
condições para a deliberação, mas isso não significa
(...), que as oportunidades para a deliberação requeiram
condições para o diálogo; não é o caso, em consequência,
que uma democracia deliberativa comece onde começa a democracia
directa, participativa" (Glasser e Craft, 1998: 212).
Já Tanni Haas sustenta que não é necessário ao movimento
escolher entre um discurso público concebido em termos diálogicos
ou deliberativos, mas antes que o recurso a uma "explícita
relação dialéctica entre estas duas formas de discurso
público" (Haas, 2007: 35) cumpre melhor os objectivos de elevar a
deliberação pública. O diálogo face-a-face permite aos
cidadãos melhores oportunidades de avaliarem as opiniões e os
processos argumentativos de cada um. A mediatização dessas
avaliações permite a sua partilha por uma audiência mais
alargada, num ciclo contínuo que enriqueça a deliberação
pública, permitindo que esta se torne mais aberta, mais inclusiva e
mais abrangente.
Uma outra questão tem de ser equacionada, sob pena do movimento
fomentar apenas uma "ilusão de reforma" (Glasser, 1999: 10): qual o
telos da deliberação pública?
As suas práticas têm orientado a deliberação pública para a
promoção do consenso comunitário, correndo o risco de silenciar
os públicos minoritários e de contribuir para a manutenção
das desigualdades sociais. Tanni Haas propõe que o Jornalismo
Público redireccione a deliberação pública para a
tematização dessas desigualdades sociais, para que os cidadãos
possam reflectir sobre as suas diferenças. Isto implica que os
media informativos continuem a adoptar práticas que alarguem o debate
a uma maior diversidade temática e de opiniões e, ao mesmo tempo,
que publicitem as localizações sociais a partir das quais os
membros do público formam as suas opiniões e promovam a reflexão
sobre a forma como essas localizações sociais condicionam as
diferentes perspectivas acerca dos problemas e das soluções:
"Assim, o jornalismo pode tornar-se um meio através do qual os
cidadãos compreendam não só que têm interesses diferentes, e
talvez até, conflituais, mas também que alguns interesses
necessitam de uma maior protecção e promoção do que
outros" (Haas, 2007: 37).
A assumpção de uma relação dialéctica entre a esfera
pública (do jornalismo) e a sociedade civil (organizações
cívicas) complementa o debate público: "Enquanto a sociedade civil
pode oferecer aos cidadãos as oportunidades para cultivarem as suas
identidades políticas bem como para articularem, deliberarem e agirem
em relação a posições políticas particulares que emerjam,
a esfera pública pode alimentar espaços discursivos nos quais
essas posições sejam partilhadas e discutidas por uma ampla
audiência de cidadãos" (Haas, 2007: 42); sendo os resultados
dessas deliberações canalizados, de novo, para as
instituições da sociedade civil, formando um ciclo contínuo que
promova a participação democrática
O significado de participação democrática tem, em
consequência, de ser também repensado, já que o Jornalismo
Público tem orientado os seus esforços no sentido da
assumpção, por parte das comunidades, da resolução dos
problemas. Esta opção pode, paradoxalmente, contribuir para o
cinismo em relação ao governo que aponta como um dos sintomas do
declínio da participação na vida pública (Schudson, 1998:
145), levar a um falso sentido de participação dos cidadãos
(Glasser, 1999: 10), reduzir a possibilidade de articulação de
esforços entre cidadãos e especialistas e limitar a sua
contextualização em termos regionais, nacionais ou
transnacionais.
Resultando da tentativa de ultrapassar problemas clássicos da
democracia, como a escala e a natureza humana, a adopção de um
modelo democrático que combina características representativas com
elementos de democracia directa-participativa, depara-se com
obstáculos quanto à sua sustentação a longo prazo. Por um
lado, na contemporaneidade, os assuntos políticos que afectam os
cidadãos "são uma curiosa mistura do local, do nacional e do
global" (Peters, 1999: 103). Por outro, há que reflectir sobre a
possibilidade de efectivação de uma democracia de cariz
participativo, dadas as exigências que tal implica, em termos da
disponibilidade exigida aos cidadãos para se dedicarem à vida
pública: "É um romantismo perigoso esperar que todos os cidadãos
tenham o desejo, o tempo ou as capacidades para um envolvimento activo
na vida política" (Peters, 1999: 103).
As práticas do movimento remetem, aliás, para a constatação de
que "as organizações noticiosas fazem mais para facilitar a
interacção entre a redacção e as audiências do que para
facilitar a interacção entre os cidadãos e entre estes e o
poder" (Haas, 2007: 137), o que significa que, das duas lacunas que se
propôs minorar, apenas obteve algum sucesso no que respeita à que
separa os media dos seus públicos.
Democracia e deliberação pública
A perspectiva que emerge é a da necessidade de adequar as
intenções e as práticas do movimento, de acordo com o que nos
parece ser o mais relevante contributo para a revitalização da
vida pública: o seu compromisso com a deliberação
democrática.
Recorremos ao modelo dual de Democracia Deliberativa de Jürgen
Habermas (1997), que redefine a soberania popular numa perspectiva
intersubjectiva, resultante das interacções entre a
formação de vontade institucionalizada (poder político) e as
esferas públicas, ancoradas nas associações da sociedade civil,
formando uma ampla rede de sensores aos problemas sociais e estimulando
a produção de opiniões que influenciem o sistema político.
O
telos do Jornalismo Público será, nesta óptica, o de
criar as condições para a deliberação pública, através
da publicitação, da crítica e do debate das opiniões dos
públicos, e da sua projecção na esfera pública, com o
objectivo de a transformar em influxo publicístico-político
(Habermas, 1997: 92) que influencie a acção
governativa.
Este enquadramento remete, de novo, para uma visão essencialmente
procedimental do jornalismo, consentânea com as propostas teóricas
e as práticas do movimento, mas assente em valores universalistas de
justiça social, permitindo ultrapassar quer as limitações da
perspectiva liberal quer evitar os riscos colectivistas associados à
visão comunitária. Assume um "bem comum", mas restringe-o ao
compromisso com uma deliberação aberta, igualitária e
paritária. Ao jornalismo competirá advogar pela formação de
novos públicos que, por seu turno, possam mudar as instituições
existentes e alterar as suas regras de funcionamento: "A
interacção entre os vários públicos na esfera pública
política reduz a balcanização das sociedades pluralistas
produzida pela combinação de desigualdades e de conflitos"
(Bohman, 1996: 145).
Vários instrumentos deliberativos podem ajudar a adequar as práticas
do Jornalismo Público aos seus objectivos. O mapeamento cívico
permite alargar o leque de pessoas que são abrangidas, ao identificar
cinco estratos sociais junto dos quais os jornalistas devem procurar
novas fontes de informação. Estas incluem a camada oficial das
organizações governamentais locais; a "quase-oficial",
constituída pelas organizações cívicas e outros grupos, como
os sindicatos, que advogam causas; locais de reunião, como igrejas,
centros comerciais e restaurantes; os "encontros incidentais" em
passeios e mercados e, por fim, as casas dos cidadãos. Esta abordagem
contribui para um alargamento quer das fontes quer das formas de
discurso, ao privilegiar conversas cívicas, em detrimento de
entrevistas formais (Haas, 2008: 9), capazes de captar de modo mais
abrangente as diversas formas de diálogo público que os cidadãos
estabelecem no seu quotidiano.
Já as sondagens deliberativas, promovidas por James Fishkin na
Inglaterra e nos Estados Unidos, abordam a opinião pública de modo
mais consentâneo. Este instrumento implica a reunião de uma amostra
representativa do eleitorado, a quem é disponibilizada
informação sobre um determinado tema, produzida por
especialistas, sendo a sondagem realizada após o processo
deliberativo. O debate pode ser realizado antes, ou depois, do acesso
às propostas dos especialistas, sendo a primeira opção a que
mais se aproxima de uma definição dos termos do debate por parte
do público. A transmissão televisiva dos resultados das sondagens
permitiu que essas opiniões integrassem a agenda do debate público
mediático (Fishkin, 1997: 144 e ss.).
Uma melhor interacção entre os cidadãos, os especialistas e o
poder político é, por seu turno, facilitada pelo modelo de
conferência por consenso. Este reúne um painel de cidadãos que,
em duas reuniões preliminares e uma conferência principal, levantam
questões sobre o tema, participam na selecção dos peritos e
interagem activamente com os especialistas. Após este processo,
deliberam e acordam recomendações para a resolução do
problema, emergindo daí a denominada declaração de consenso, a
ser apresentada a governantes e ao público em geral. Esta técnica
permite abordar temas complexos, envolvendo poderes a vários níveis
(local, regional, nacional ou internacional), que dispõem da
capacidade de promover legislação e desenvolver políticas que
solucionem os problemas (Haas, 2007: 106-116).
A segunda fase do jornalismo público
Nesta revisão crítica da literatura e das práticas do Jornalismo
Público, visitámos a sua emergência, debatemos o alcance das suas
propostas e avançámos contributos para ultrapassar os
obstáculos, visando a redefinição da função social do
jornalismo à luz do conceito de Democracia Deliberativa. Em jeito de
conclusão, percorremos a história mais recente do movimento e
equacionamos os desafios que se colocam à sua sobrevivência, passe
esta pela sua afirmação como uma modalidade de jornalismo de
profundidade ou pela sua capacidade de se apresentar como um modelo
alternativo de jornalismo.
A emergência do denominado "jornalismo-cidadão" (ou "jornalismo
do público"), já nesta década, levou à morte anunciada do
Jornalismo Público (Witt, 2004: 49). A tecnologia digital a baixo
custo e a generalização do acesso à Internet confluíram na
emergência de uma panóplia de novos media, permitindo a cada
cidadão produzir e difundir conteúdos para uma audiência
potencialmente ilimitada, à luz da qual os objectivos do movimento
aparentavam ter sido ultrapassados. Simultaneamente, a
reorientação para a Internet das corporações
proprietárias dos media que acolheram as primeiras experiências,
como a
Knight-Ridder; a retirada das fundações que
financiaram os grandes projectos do movimento e o encerramento do
Pew Center for Civic Journalism (PCCJ), em 2003, deixaram os
principais impulsionadores do Jornalismo Público a debater
estratégias de sobrevivência.
Na origem do problema, vislumbraram uma possível solução:
direccionarem-se para os novos media. Em 2004, um ano após a
criação da
Public Journalism Network, Jan Schaffer, o
antigo director do PCCJ, financiava, através do
J-Lab (Instituto para o Jornalismo Interactivo da Universidade de Maryland),
projectos de media de cidadãos na Internet. Jay Rosen retomou a
crítica dos media convencionais no blogue
PressThink. Um dos
mais influentes
blogguers do país, Jeff Jarvis, promovia, no
seu
BuzzMachine, o jornalismo "hiper-local". A questão
deixou de ser a sobrevivência do movimento. Este transformara-se,
nas palavras do actual director da PJN, no "jornalismo do público"
(Witt, 2004: 55).
O debate passa agora pela capacidade de sobrevivência dos media
tradicionais e pelo contributo dos novos media para uma vida pública
mais democrática. Abordando a relação de media tradicionais e
novos media com as audiências, nomeadamente no que respeita à
participação, à interacção e à publicação de
conteúdos produzidos pelos cidadãos, Joyce Nip (2006) cruza estes
debates, apontando para um contributo que fica aquém das conquistas
do Jornalismo Público.
Embora os media convencionais estejam a desenvolver novas formas de se
relacionarem com as suas audiências, mostram-se ainda incapazes de
aproveitar o potencial interactivo da Internet (Rosenberry, 2005; Nip,
2006; Shultz, 2008) para estabelecerem uma verdadeira comunicação
com os públicos. A investigação empírica sistematizada por
Tanni Haas (2007), nomeadamente no que respeita ao conteúdos de
blogues de cidadãos e sites comunitários "hiper-locais",
indicia também um limitado contributo dos novos media quer no que
respeita a uma maior democratização da informação quer
quanto à sua capacidade de influenciarem a agenda mediática. Os
blogues dos cidadãos contêm poucos relatos noticiosos originais e
independentes, tendendo a "re-mediatizar" as informações e as
opiniões dos media noticiosos convencionais, o que se traduz numa
amplificação dos pontos de vista das suas fontes de
informação de elite. No que respeita à interacção entre
cidadãos online, os padrões de "linkagem" entre blogues revelam
que essa interacção ocorre sobretudo entre cibernautas com
posições políticas similares, dando conta de uma
fragmentação ideológica da blogosfera.
Os sites comunitários "hiper-locais", por seu turno, embora
apresentem relatos noticiosos originais dos cidadãos, operam com uma
divisão jornalística do trabalho, que resulta problemática em
relação a uma maior democratização da informação.
Enquanto a redacção assume a cobertura noticiosa de
acontecimentos e de temas locais, os cidadãos relatam as suas
preocupações e interesses privados. Neste sentido, os novos media
não só "vão contra os ideais democráticos do jornalismo
público, mas ficam aquém dos objectivos que este conseguiu
alcançar" (Haas, 2007: 138).
Estes são indicadores que apontam para alguma precipitação no
que respeita à morte (prematuramente) anunciada do Jornalismo
Público ou para a sua transfiguração no "jornalismo do
público", ao recolocarem no centro do debate o seu contributo para
uma vida pública mais democrática. Este encontra-se, mais
propriamente, numa "segunda fase" (Nip, 2006: 230), na qual se cruzam
novos e velhos desafios à sua sobrevivência. Nesta perspectiva, o
futuro do Jornalismo Público tem de ser equacionado em termos da sua
capacidade de sobreviver enquanto movimento, ao nível da sua
consolidação como uma modalidade de jornalismo de profundidade e
no que respeita à sua afirmação como um modelo alternativo de
exercício da profissão.
Do ponto de vista das rotinas profissionais, nas quais o movimento
concentrou os seus esforços reformistas, os desafios mais imediatos
passam pela sua capacidade de disponibilizar canais de
participação aos cidadãos, dentro e fora da Internet, e pela
criação de ligações entre os públicos online e os
públicos da sociedade civil, orientando-os para uma efectiva
inclusão na esfera mediática, a partir da qual possam exercer
influência sobre o poder político. O que implica não só a
articulação das suas práticas com um enquadramento teórico
que sustente o seu carácter alternativo, como discutimos atrás, mas
também que seja capaz de aproveitar o "momento" que emergiu na fase
de maior mobilização (Friedland, 2004: 36), evitando que a
experiência acumulada pelos jornalistas envolvidos seja perdida, no
actual contexto de dispersão e de desmobilização. Essa
dispersão tem também consequências no que respeita à
preservação da sua dimensão identitária, sem a qual o
movimento dificilmente sobrevirá enquanto tal.
A consolidação como uma modalidade de jornalismo de profundidade,
à semelhança do que se verificou com movimentos anteriores, como
o do
New Journalism ou o jornalismo de investigação,
depende também da preservação da dimensão identitária do
Jornalismo Público e da sua transmissão a novas gerações de
jornalistas, nomeadamente através da sua inclusão generalizada nos
curricula universitários.
Mais remota parece ser a possibilidade do movimento conseguir
apresentar-se como um modelo alternativo do jornalismo. Os desafios
remontam à emergência do Jornalismo Público, mas apresentam-se
com uma maior complexidade no actual panorama mediático, obrigando
à sua articulação com as mudanças tecnológicas em curso e
à consideração das suas condicionantes
político-económicas, sem as quais não é possível sustentar
um modelo alternativo do jornalismo que promova uma comunicação
mais "pública".
Bibliografia
ANDERSON, Rob, DARDENNE, Robert,
KILLENBERG, George M., The American Newspaper
As the Public Conversational Commons Jay (Ed.), Mixed News. The Public/Civic/Communitarian Journalism Debate,
New Jersey, Lawrence Erlbaum Associates, 1997, pp. 96-115.
-
- BOHMAN, James, Public Deliberation. Pluralism,
Complexity and Democracy, Cambridge, Massachusetts, The MIT Press,
1996.
-
- BOURDIEU, Pierre, A Opinião Pública Não
Existe , Lisboa, Fim de Século,
2003, pp. 233-245.
-
- CAREY, James W., The Press, Public Opinion and
Public Discourse, in GLASSER, Theodore L.,
SALMON, Charles T. (Ed.), Public Opinion and
the Communication of Consent, New York, The Gilford Press, 1995, pp.
373-402.
-
- CHARITY, Artur, Doing Public Journalism, New
York, The Guilford Press, 1995.
-
- CHRISTIANS, Clifford G., The Common Good and
Universal Values, Jay (Ed.), Mixed News. The Public/Civic/Communitarian Journalism Debate,
New Jersey, Lawrence Erlbaum Associates, 1997, pp.
18-33.
-
- CHRISTIANS, Clifford G., The Common Good as
First Principle in GLASSER, Theodore L. (Ed.), The Idea of Public Journalism, New York, The Gilford Press,
1999, pp. 67-84.
-
- COLEMAN, Renita, The Ethical Context for Public
Journalism: As an Ethical Foundation for Public Journalism,
Communitarian Philosophy Provides Principles for Practitioners to Apply
to Real-World Problems in Journal of Communication Inquiry, 24:1,
2000, 41-66.
-
- COLEMAN, Renita, Os Antecedentes Intelectuais do
Jornalismo Público in TRAQUINA, Nelson,
MESQUITA, Mário (Org.), Jornalismo Cívico,
Lisboa, Livros Horizonte, 2003, pp. 59-73.
-
- DEWEY, John , La Opinion Pública y Sus
Problemas, Madrid, Morata, 2004.
-
- FISHKIN, James S., The Voice of the People. Public Opinion and Democracy, New Haven, London, Yale
University Press, 1997.
-
- FRASER, Nancy, Rethinking the Public Sphere: A Contribution to
the Critique of Actually Existing Democracy in CALHOUN, Craig, Habermas and the Public Sphere, Cambridge, Massachusetts, The
MIT Press, 1992, pp. 109-142.
-
- FRIEDLAND, Lewis A., Public Journalism and
Communities in National Civic Review, 93 (3), 2004, 36-42.
-
- GLASSER, Theodore L.,
Craft, Stephanie, Public Journalism and the
Search for Democratic Ideals in LIEBES, Tamar, CURRAN, James (Ed.), Media, Ritual and Identity, London, New York, Routledge, 1998,
pp. 203-218.
-
- GLASSER, Theodore L., The Idea of Public
Journalism in GLASSER, Theodore L. (Ed.), The
Idea of Public Journalism, New York, The Gilford Press, 1999, pp.
3-18.
-
- GLASSER, Theodore L., Lee, Francis L., Repositioning the Newsroom. The American Experience with
"Public Journalism" in KUHN, Raimond,
NEVEAU, Erik (Ed.), Political Journalism. New
Chalenges. New Practices, London, New York, Routledge, 2004, pp.
203-223.
-
- HAAS, Tanni, The Pursuit of Public Journalism.
Theory, Practice and Criticism, London, New York, Routledge, 2007.
-
- HAAS, Tanni, Civic Mapping as a Public
Journalism Tool in Estudos em Comunicação, 3, 2008, 1-11.
-
- HABERMAS, Jürgen, Direito e Democracia. Entre
Facticidade e Validade (Vol. II), Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro,
1997.
-
- HARDT, Hanno, The Quest for Public Journalism in
Journal of Communication, 47: 3, 1997, 94-101.
-
- HODGES, Louis W., Ruminations About the
Communitarian Debate in Journal of Mass Media Ethics, 11:3, 1996, 133
-139.
-
- MERRITT, Davis, Public Journalism and Public
Life. Why Telling the News Is Not Enough, New Jersey, Lawrence Erlbaum
Associates, 1998.
-
- NIP, Joyce Y. M., Exploring the Second Phase of
Public Journalism, Journalism Studies, 7:2, 2006, 212-236.
-
- PETERS, John Durham, Public Journalism and Democratic Theory:
Four Chalenges in GLASSER, Theodore L. (Ed.), The Idea of Public Journalism, New York, The Gilford Press,
1999, pp. 99-117.
-
- ROSEN, Jay, Getting the Connections Right.
Public Journalism and the Troubles in the Press, New York, The
Twentieth Century Fund Press, 1996.
-
- ROSEN, Jay, What Are Journalists For?, New Haven, London, Yale
University Press, 1999.
-
- ROSEN, Jay, Para Além da Objectividade in
TRAQUINA, Nelson, MESQUITA, Mário
(Org.), Jornalismo Cívico, Lisboa, Livros Horizonte, 2003,
pp. 75-84.
-
- ROSENBERRY, Jack, Few Papers Use Online Techniques to Improve
Public Communication in Newspaper Research Journal, 2005, 26: 4,
61-73.
-
- SCHUDSON, Michael, The Public Journalism
Movement and Its Problems in GRABER, Doris,
McQUAIL, Dennis, NORRIS, Pippa (Eds.), The Politics of News, The News of Politics, Washington,
Congressional Quarter Press, 1998, pp. 132-149.
-
- SCHULTZ, Tanjev, Mass media and the concept of interactivity: an
exploratory study of online forums and reader email, in Media Culture
Society, 22, 2000, 205-221.
-
- WITT, Leonard, Is Public Journalism Morphing into the Public's
Journalism? in National Civic Review, 93 (3), 2004, 49-57.
Footnotes:
1Instituto
Politécnico de Coimbra/Universidade Nova de Lisboa. E-mail: susborges@gmail.com