Reflexões sobre cultura na tela do cinema:
uma leitura do filme 'Habana Blues'
Francisco de Assis1
2008
O texto objetiva refletir algumas das inúmeras definições de
cultura, com vistas à observação de como ela se manifesta no
cotidiano de uma sociedade. Para isso, estabelece um pacto de releitura
entre cultura e mídia, a partir das possibilidades oferecidas pelo
cinema, particularmente pela obra cinematográfica Habana Blues, cujo
pano de fundo é o curioso cenário de Havana, capital de Cuba.
Defende-se aqui que cultura não pode ser enxergada pela óptica de
uma única demarcação e, muito menos, apenas como um produto a
ser adquirido.
Cenas para reflexão
As discussões em torno do tema cultura podem ser
consideradas as mais diversificadas dentre as pautas levantadas pelas
Ciências Sociais. Isso porque o próprio termo cultura pode ser
entendido numa variedade de acepções, em diferentes níveis de
profundidade ou especificidade.
Cada linha de pensamento ou cada corrente científico-social é
capaz de dar uma definição distinta para cultura; alguns a vêem
como aspecto de civilidade, outros, como modelo de vida, e, dentre
outras visões, há aqueles que a associam às artes. Diante de
tantas possibilidades, uma das visões mais aceita é aquela que a
trata como um "conjunto dos processos sociais de significação"
(CANCLINI, 2006, p. 41).
Se for encarada como algo que gera significação, é importante
que uma idéia seja sempre levada em conta: cultura não é
essência, mas, sim, processo. E é por isso que os significados
são tão diferentes e, em alguns casos, divergentes. Seu
entendimento varia de acordo com contextos, repertório e, até
mesmo, com o poder que se tem para julgá-la. Afinal, cultura remete
a identidade.
Partindo dessas observações e de algumas outras que serão
descritas a seguir, este artigo procura fazer uma reflexão sobre como
a cultura pode carregar diferentes significados dentro de uma mesma
realidade. Para isso, tem como base o filme
Habana Blues, do
diretor Benito Zambrano, que utiliza como pano de fundo o curioso
cenário de Havana, capital de Cuba.
Em termos metodológicos, o estudo valeu-se da pesquisa
bibliográfica, com a revisão de textos de referência, e da
observação da obra cinematográfica citada, compreendendo três
etapas propostas por Coutinho (2005): 1) leitura; 2)
interpretação; e 3) síntese e conclusão.
Pelo olhar do cinema e pela tradução dos signos utilizados para a
composição do longa-metragem, é possível estabelecer
algumas ligações entre a temática principal deste texto e o
cotidiano do povo cubano, ilustrado no recorte dado pela obra
cinematográfica.
Sobre as (in)definições de cultura
O ponto de partida para se discorrer sobre o tema cultura, sem dúvida
alguma, deve ser sua própria etimologia, cuja tradução é
capaz de elucidar com maior propriedade a afirmação de que
cultura se trata de um processo. A palavra é de origem latina -
culter - que significa "relha de arado". "Um de seus
significados originais é `lavoura' ou `cultivo agrícola', o cultivo
do que cresce naturalmente [...] Nossa palavra para a mais nobre das
atividades humanas, assim, é derivada de trabalho e agricultura,
colheita e cultivo" (EAGLETON, 2005, p. 9-10).
De acordo com Canclini (2006), até não muito tempo atrás, uma das
preocupações dos teóricos era encontrar um único paradigma
que estabelecesse parâmetros para a explicação de cultura. Com
o passar do tempo, reconheceu-se que a multiplicidade de
entendimentos e aplicações do termo fazem parte de sua
configuração na sociedade pós-moderna.
Para exemplificar seu pensamento, o autor enumera quatro vertentes que
se destacam no cenário contemporâneo. A primeira denomina cultura
como a forma que determinado grupo situa sua identidade; a outra,
ligada a valores
2, a enxerga como uma
instância simbólica de produção e reprodução da
sociedade, capaz de desenvolver processos de significação; uma
terceira a aponta como configuração de consenso e hegemonia, que
detém o poder de qualificar ou desvalorizar o que quer que seja; já
a quarta vertente a vê como "dramatização eufemizada" de
conflitos sociais, ou seja, reflete em suas manifestações -
dança, música, teatro etc. - o poder e as lutas de diferentes
classes sociais.
Como tornar compatíveis estas quatro narrativas distintas? O próprio
fato de serem quatro leva a pensar que não estamos diante de
paradigmas. São formas com as quais nos narramos o que acontece com a
cultura na sociedade. Se fosse só um problema de narração, de
narratologia, não seria tão complexo compatibilizá-las. Estamos
também diante de conflitos nos modos de conhecer a vida social [...]
É necessário avançar no trabalho epistemológico [...], a fim
de explorar como as aproximações que narram os vínculos da
cultura com a sociedade, com o poder, com a economia, com a
produção, poderiam ser conjugadas, articuladas umas com as
outras. (CANCLINI, 2006, p. 47)
Seguindo por uma lógica semelhante à da diferença, da
desigualdade e da desconexão da cultura, abraçada por Canclini, o
brasileiro José Luiz Santos (2000) assegura que cada realidade
cultural possui uma lógica própria, a qual caracteriza ações,
práticas, costumes, concepções e demais transformações
sociais. Ele adverte que é necessário relacionar tais variedades
com os contextos em que se inserem, e, ao dissertar sobre o relativismo
dos estudos sobre cultura, defende que tais observações também
diferem conforme os conhecimentos de quem a estuda.
Verifica-se assim que a observação de culturas alheias se faz
segundo pontos de vista definidos pela cultura do observador, que os
critérios que usa para classificar uma cultura são também
culturais. Ou seja, segundo essa visão, na avaliação de
culturas e traços culturais tudo é relativo. (SANTOS, 2000, p.
17)
Uma das colocações interessantes do professor Santos é aquela
que diz que "as várias maneiras de entender o que é cultura
derivam de um conjunto comum de preocupações" (2000, p. 24). E
pontua duas: a primeira "caracteriza a existência social de um povo
ou nação", e a segunda refere-se "mais especificamente ao
conhecimento, às idéias e crenças, assim como às maneiras
como eles existem na vida social" (Op. cit., p. 24-25). Por isso
mesmo, existe um consenso entre os autores estudados, no que diz
respeito ao entendimento da cultura como identidade.
Eagleton (2005, p. 41), por sua vez, defende que: "cultura como modo
de vida é uma versão estetizada da sociedade, encontrando nela a
unidade, imediação sensível e independência de conflito que
associamos ao artefato estético". Nesse contexto, há que se
levar em conta que durante muito tempo, cultura era o termo utilizado
para aproximar, denominar algo em comum; hoje, a mesma palavra
significa divisão, ou seja, é usada para apontar identidades
específicas.
Depois da abordagem da cultura como processo de civilidade e como
modelo associado à identidade, nada mais justo do que remeter esta
discussão a uma instância que se faz fortemente presente no
imaginário social: a cultura como arte. Associada ao belo e à
erudição, essa definição abarca trabalhos artísticos e
intelectuais, que podem ser produzidos por diferentes camadas da
sociedade. Entretanto, assim como os demais paradigmas, necessita de um
respaldo, de reconhecimento.
Bem se sabe que arte nenhuma possui valor se não for reconhecida,
fato que nem sempre é simples de se concretizar. Santaella (1982,
p.51), ao pensar o caso do Brasil, mostra como é difícil dar
reconhecimento à arte, em contextos em que existem outras
discussões a se priorizar
3:
Não resta dúvida de que numa sociedade como a brasileira,
periférica e dependente, onde o capitalismo atinge as raias da
selvageria e onde a imensa maioria da população desvive na
miséria e na fome, enfatizar a importância de se resgatar e
compreender o valor das produções artísticas de real qualidade
parece representar a busca de um luxo supérfluo necessário apenas
àqueles que não têm fome. Não resta dúvida de que numa
sociedade como esta, onde a arte é reduto inacessível às grandes
maiorias nacionais sequer parcamente alfabetizadas, fazer ou falar de
arte "tem sempre o sabor de delito".
Pois bem. Os discursos sobre cultura convergem e divergem em diversos
pontos, reafirmando a idéia de que não é possível dar uma
única definição a ela. E mesmo as demarcações
generalizadas são subdivididas de acordo com o contexto em que se
estabelecem; afinal, tal temática está intrinsecamente ligada à
construção de identidade, a formas de organização da vida
em sociedade e a processos de significação. E, por conta de tudo
isso, permite adaptações, orienta padrões, além de se
manifestar por meio de pensamentos e de objetos. Em outras palavras,
é tudo aquilo que, de uma forma ou de outra, é movimentado pela
sociedade.
O filme `Habana Blues'
Escrito e dirigido pelo cineasta espanhol Benito Zambrano,
Habana Blues conta a história de Ruy (Alberto Yoel García)
e Tito (Roberto Sanmartín), dois músicos que sonham em se tornar
famosos no mundo da música. Porém, convivem com todas as
limitações de Cuba, eximida da modernidade por conta do regime
autoritário imposto pelo presidente Fidel Castro.
Tito mora com a avó, Luz María (Zenia Marabal), uma cantora de
respeito em Havana; já Ruy reside com a mãe de seus filhos, Caridad
(Yailene Sierra), uma jovem que vende peças de artesanato para
sustentar a família. Ambos vivem em função de sua música, que
se tornou a trilha sonora original de seu grupo de amigos, e do ideal
de se projetarem no cenário artístico.
Na história, a tradição cubana é fortemente valorizada no som
produzido pela dupla, o que se torna motivo de conflito, num momento
posterior. Isso porque a vida dos jovens pode mudar completamente
quando dois produtores da Espanha - Marta (Marta Calvo) e Lorenzo
(Roger Pera) - vão a Cuba e descobrem o talento de Ruy e Tito.
Depois de conviverem com eles e conhecerem os movimentos musicais
alternativos de Havana, os espanhóis oferecem a assinatura de
contrato com uma gravadora, mas que exigirá a mudança dos
músicos para a Europa.
Por conta disso, os músicos se vêem diante de um dilema, sem saber
se vale a pena abandonar as pessoas que amam e ir atrás de um sonho
que pode comprometer a própria integridade musical da dupla.
Influenciado muito mais pela realidade do que pela fantasia, o diretor
Zambrano explica, em entrevista publicada no site oficial do filme,
como surgiu a idéia de escrever o roteiro, tarefa que contou com a
colaboração de Ernesto Chao:
Durante muito tempo me perguntei que tipo de história deveria contar e
como deveria fazê-lo. Estava convencido de que cabia aos artistas e
cineastas cubanos lidar com as dificuldades de seu país. Acabei me
convencendo de que não poderia lidar com uma história que fosse uma
crítica vaga da realidade de Cuba. Já havia estrangeiros demais que
tomaram a liberdade de dizer aos cubanos o que era certo e o que não
era. Eu não queria ser tão presunçoso quanto eles. Foi por isso
também que tive vontade de escrever uma história que se baseasse na
realidade concreta de Cuba e depois se expandisse para questões que
fossem as mais universais possíveis - e divertidas ao mesmo tempo.
Graças ao comprometimento de todos e à pesquisa detalhada de
arquivos, fomos capazes de fornecer uma representação fiel o
bastante do lugar extraordinário que tantas vezes já sofreu
representações estereotipadas... (UM OLHAR..., 2007, on-line)
Na mesma entrevista, o co-roteirista Ernesto Chao destaca como a
cultura de Cuba é valorizada por seu povo e como a idéia de negar
tal identidade pode parecer assustadora. Ele afirma:
A maneira como olhamos para Havana é sempre terna e generosa, mesmo
que possa ser também com pesar. Nossa intenção foi retratar a
vida como ela é de verdade, lidar com a família cubana e com a
dignidade do povo cubano, que pertence ao Terceiro Mundo, e também
tentar mostrar o que `viver fora' significa para um cubano. Como
cubano, acredito que o modo como olhamos nosso país é honesto e
reflete o amor de Benito pelo nosso povo. É o seu próprio tributo a
Cuba. (Op. cit.)
Como foi dito anteriormente, os personagens de
Habana Blues fazem uma viagem por Havana, apresentando um apanhado da música
alternativa da cidade. Na visão de Zambrano, esses sons contribuem
para contar a história: "A música e o cinema são duas linguagens
valiosas, duas formas de arte que precisam uma da outra. Elas lembram
uma a outra, especialmente em sua expressão da emoção" (Op.
cit.).
É importante reforçar que a música é, realmente, a
característica principal do filme. Na entrevista mencionada
anteriormente, o produtor Antonio Pérez enfatiza que o destaque da
película são as desconhecidas bandas populares cubanas, que
exploram o
hip hop, o reggae, o havy metal, entre outros
estilos; além disso, a trilha sonora mescla sons característicos de
Cuba com o rock'n'roll.
Leitura crítica da obra cinematográfica
Antes de qualquer consideração sobre os conceitos de
cultura percebidos no filme
Habana Blues, é importante aqui
situar o cenário em que a história se passa. Ilha outrora explorada
pela Espanha, Cuba experimentou a realidade da guerra, do golpe militar
e da revolução até, no final da década de 1950, passar às
mãos de um presidente que a conduz de acordo com suas ideologia
comunista: Fidel Ajandro Castro Ruz.
Fidel Castro é, no mínimo, uma figura intrigante: para seus
defensores, trata-se de um herói da revolução social, capaz
de garantir a divisão igualitária da riqueza do país; seus
adversários, no entanto, o vêem como um ditador que defende,
unicamente, sua política socialista.
Admirado ou contestado, o líder cubano é conhecido por resistir
fortemente às influências sociológicas e mercantilistas dos
Estados Unidos, o que leva seu país a viver isolado economicamente e
passar por diversas dificuldades. E tais problemas, segundo Issa
(2003), vem se agravando cada vez mais depois do fim da União
Soviética.
Com a intensificação do período especial -
denominação dada por Fidel ao período de dificuldades em que o
país atravessa desde a queda do bloco soviético - Havana vem se
transformando num lugar onde tudo, mas tudo mesmo é racionado.
Alimento, gasolina, sabonete, papel higiênico, energia elétrica.
Tudo tem que ser utilizado em cotas, para não deixar de
existir. (ISSA, 2003, p. 28)
Diante de tais dificuldades financeiras e do bloqueio da
invasão cultural norte-americana em seus domínios, os cubanos
encontram uma série de percalços para produzirem qualquer tipo de
arte, fato narrado com detalhes pelo longa-metragem analisado. Como
bem observa Santaella (1982), não é de se espantar que as
produções artísticas sejam colocadas num segundo plano, em uma
terra onde há tantos assuntos urgentes a serem discutidos; por outro
lado, a ditadura de Fidel Castro também impede que grandes
manifestações culturais sejam promovidas: em uma das cenas do
filme, por exemplo, o personagem Tito ilustra essa realidade ao dizer
aos produtores espanhóis que, em seu país, a reunião de mais de
três músicos pode ser considerado como subversão.
Aspecto interessante do filme, apregoado outrora pelos teóricos, é a
fácil assimilação do sentido de cultura como modo de vida. E
isso se manifesta em diferentes situações. Uma delas diz respeito
às vestimentas: raramente alguém aparece trajando jeans ou
camisetas comuns à identidade norte-americana adotada por outros
países do mundo ocidental; ao contrário, as roupas mais leves,
calças largas, batas, e outros apetrechos, como colares e brincos,
típicos de uma terra tropical, remetem o imaginário do expectador
ao mundo latino. Outra situação é a própria paisagem de
Havana, cujos modelos arquitetônicos das casas nada se parecem com os
estilos modernos e fazem pensar que nenhuma reforma foi feita em seus
prédios nos últimos 50 anos; aliás, não são apenas os
imóveis que carregam essa característica, haja vista os
automóveis modelo 58 ainda utilizados pela população.
Além disso, é comum, na maioria das cenas de
Habana Blues,
algum dos personagens estar às voltas com uma garrafa de rum ou
fumando um charuto, costumes peculiares à cultura cubana. Isto é,
como foi visto na revisão de literatura apresentada por este texto,
trata-se de cultura que remete à singularidade e à
fragmentação do povo representado na obra cinematográfica.
Passagem curiosa também é quando Caridad leva seus filhos a uma
lanchonete com características próprias ao país onde o filme se
passa. Lá, cada um recebe um sanduíche que combina com o ambiente
em que estão, ou seja, não se trata de uma loja de
fast-food ou de qualquer alimento que remeta à cultura
americana.
Outra característica que merece ser destacada vai ao encontro das
idéias de Canclini (2006, p.46), que aponta a "instância de
conformação do consenso e da hegemonia" como uma das vertentes
contemporâneas dos significados de cultura: no desenrolar do filme,
os produtores exigem que a banda de Ruy e Tito modifiquem alguns versos
de sua música, por considerarem tal conteúdo extremamente local. O
discurso dos espanhóis reforça a idéia de que produtos
culturais, para serem aceitos internacionalmente, precisam atender às
exigências do mercado, mesmo que isso interfira nas características
particulares dos artistas. Aliás, essa passagem ainda reforça uma
outra idéia do autor estudado, que disserta sobre a poder que as
classes dominantes têm para dizer o que é bom e o que é ruim, em
termos de arte.
Os diálogos dos personagens do filme também avigoram uma idéia
levantada pelos teóricos que estabelecem a arte como definição
para cultura e entendem que ela precisa de reconhecimento para se
sustentar. Numa das últimas cenas, em que Ruy e Caridad se reúnem
com um grupo de amigo, um dos músicos da banda esbraveja que o
artista precisa de público e que a arte pura morreu, recuperando a
idéia de que a mercantilização das manifestações
culturais sufoca outros tipos de cultura não reconhecidos por aqueles
que detêm o poder de julgá-la.
Em diversas outras cenas, os sentidos sociais de cultura são
fortemente representados por objetos, gestos, costumes e até mesmo a
própria história desenvolvida pelo filme. Tudo isso resgata, de uma
maneira inerente ao cinema, as observações dos cientistas sociais
que se dedicam a estudar a cultura. Os próprios conflitos de
identidade e de estética, muitas vezes percebidos pela necessidade
que os músicos têm de adaptar seu som à demanda do mercado
internacional, revelam como cultura sofre interferências de vários
lados e, por isso, é imbuída de diversas e diferentes
definições.
Considerações finais
Desde seu significado mais simples, encontrado no dicionário
como conjunto de características humanas, até a mais complexa
reflexão sociológica, cultura inclui conhecimentos e suas formas de
manifestação. E é por essa razão que interpretações e
definições, mesmo que levantadas num mesmo contexto, podem ser
instigantes e controversas.
Ademais, uma infinidade de conceitos pode ser aplicada à cultura, em
diferentes esferas sociais. Há ainda a possibilidade de se realizar
leituras específicas, que supõem algum tipo de entendimento
prévio sobre o assunto e, conseqüentemente, algum interesse pelo
mesmo.
No caso da análise apresentada nestas linhas, a fusão da teoria com
o cotidiano de um país que possui características tão
particulares procura mostrar que cultura não é apenas o que um
grupo determina como tal; ao contrário, defende que tudo o que é
apontado como sintoma da cultura é resultado de um processo
histórico ou de um processo de reflexão.
Obviamente, a polarização de alguns conceitos e as
transformações aos quais se submetem, torna cultura algo
assimilado, pela maioria das pessoas, como produtos artísticos à
disposição no mercado ou como os costumes de um povo. Mas,
Habana Blues mostra, com propriedade, que cultura é bem mais
do aquilo que pode ser comprado e levado para a casa; trata-se de uma
concepção de identidade com raízes muito mais fortalecidas do
que se imagina.
Bibliografia
- CANCLINI, N. G. Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de
Janeiro: UFRJ, 2006.
- COUTINHO, I. Leitura e análise de imagem. In: DUARTE, J; BARROS, A. Métodos e técnicas de pesquisa e Comunicação. São
Paulo: Atlas, 2005.
-
- EAGLETON, T. A idéia de cultura. São Paulo: Unesp, 2005.
-
- ISSA, L. H. As cerejas do comandante: um mergulho no
contraditório universo cubano. Taubaté, SP: Cabral, 2003.
-
- SANTAELLA, L. (Arte) & (Cultura): equívocos do elitismo.
São Paulo: Cortez/Unimep, 1982.
-
- SANTOS, J. L. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense,
2000.
Sites
UM OLHAR sobre Cuba. Disponível em: wwws.br.warnerbros.com/habanablues. Acedido em
27 abr. 2007.
Filme
HABANA Blues. Direção: Benito Zambrano. Co-produção:
Antonio P. Pérez, Camilo Vives e Fabienne Vonier. Intérpretes:
Alberto Yoel García; Roberto Sanmartín; Yailene Sierra Rodriguéz;
Marta Calvó; Roger Pera; Zenia Marabal e outros. Roteiro: Benito
Zambrano e Ernesto Chao.
Footnotes:
1Francisco de Assis é pós-graduando em Jornalismo Cultural pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade de Taubaté (UNITAU). Atua como assessor de imprensa da
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UNITAU e como
pesquisador do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Comunicação
(NUPEC), na mesma instituição. É editor da revista "Acervo
On-line de Mídia Regional". E-mail:
francisco-nupec@uol.com.br
2 Amparado pelas idéias do filósofo Jean
Baudrillard, Nestor Canclini mostra como a sociedade se constitui de
valores. Valores que não se limitam apenas ao de uso e de troca
(reconhecidos pelos marxistas), mas também congregam aquilo que
denomina
valor signo e
valor símbolo. O valor signo
implica uma série de conotações que podem ser sinônimo de
prestígio ou sofistificação; já o valor símbolo está
ligado a ritos particulares que conferem uma característica especial
a determinado objeto ou situação.
3 Muito embora o discurso de
Lúcia Santaella se volte à realidade brasileira, na leitura do
filme `Habana Blues', apresentada a seguir, fica claro que o
reconhecimento da cultura, em países de terceiro mundo, é algo
difícil de se manifestar.